Resposta a quem diz que Boxe não é esporte
Semana passada, saiu um texto na Folha de SP que se dedicava a rebaixar o boxe olímpico. O autor, Roberto Dias, que é Secretário de Redação da Folha, trouxe uns argumentos que já se usavam desde a década de 1920 aqui no Brasil. Disse que boxe é agressão mútua, que é perigoso e que deveria ser proibido tal foram as rinhas de galo e touradas. Disse ainda que vai chegar o dia que o boxe sairá do programa olímpico "pelos motivos certos", ou seja: por não merecer ser considerado um esporte.
Pessoas militando contra o boxe sempre existiram, caro sr Roberto Dias. Mas isso também ocorre com outras manifestações de gente pobre e preta, tal como foi com o samba, com a capoeira, com o funk. No Brasil, boxe é esporte de gente pobre e preta, e talvez por isso fique fácil de criticar, né seo Roberto. Dentre os sete atletas do Boxe brasileiro em Tóquio, não há nenhum branco como você, seo Roberto. Por isso talvez fique fácil pra você compará-los a touros ou galos de briga, né.
O boxe competitivo em alto nível é perigoso, sim. É coisa séria, como a gente sempre fala. Pode machucar, pode fazer mal ao nosso corpo. Porém, qualquer esporte que busca os limites físicos e técnicos do corpo humano podem fazer mal a saúde, não apenas as lutas. O que você, Roberto, deveria enxergar, é o bem que o boxe faz para tanta gente. Tanta gente preta e pobre, principalmente.
Da sua sala confortável no Alto de Pinheiros acredito que você não enxerga, mas tem muita gente que tem no boxe olímpico a sua única chance de ascensão econômica e social. É por isso que todos os atletas do time olímpico brasileiro vem de projetos social. Projetos que tentam tirar crianças do subemprego, da criminalidade, da exploração, e colocar no esporte olímpico. Treinadores de boxe por todas as periferias do Brasil tentam amenizar o abismo social e econômico que tem no país, transmitindo valores e ensinamentos através do esporte.
Hoje de manhã, seu Roberto, encontrei uma aluna minha do Boxe Autônomo puxando carroça de reciclagem no centro de São Paulo. Ela tem 15 anos, mora na Favela do Moinho, e ela sonha em um dia chegar na Olimpíada. Se depender de gente igual voce, ela vai puxar aquela carroça pra sempre. Se depender de mim e de toda comunidade pugilística, ela vai continuar no boxe olímpico, seja pra ser uma grande atleta ou seja para fazer uma faculdade através do esporte.
Abre o olho, seu Roberto Dias. Tem coisas que aí da redação da Folha você não ta enxergando.
Pra ilustrar esse texto, coloquei uma foto da equipe brasileira de boxe em Londres, 1948. Gente pobre, preta, imigrante, buscando seu lugar ao sol através do Boxe. Escolhi a foto das Olimpíadas de 1948 porque nessa época já tinha jornalista burguês falando que boxe não é esporte.
Texto - Breno Macedo
Mestre em História Social do Boxe - USP
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