Boxeadores sem rosto, treinadores sem feições

Durante minha longa pesquisa sobre o boxe brasileiro da década de 1930, tive muita dificuldade em encontrar boas imagens. Boxeadores sem rosto, treinadores sem feições, lutas sem registros fotográficos eram a regra. Porém, um dia me surgiu uma imagem que me tocou, imagem publicada num jornal carioca em 1938.

Um dos principais treinadores do país, o italiano Caverzasio, aparecia junto a um dos seus pupilos, chamado Loffredinho. O mestre posa junto ao seu discípulo em uma posição tradicional no mundo do boxe: pugilista sentado no banquinho com o seu treinador na retaguarda, como se o incentivasse ou o orientasse para o combate.
O sorriso do pugilista destoa do momento pré-combate sugerido. Dizem que Loffredinho era um cara vaidoso, bonito, boêmio. Seu retrato com luvas de boxe não podia ser diferente: feliz, alegre, mesmo pronto para sair na porrada.
Já o rosto de Caverzasio praticamente não pode ser visto. Somente sua posição, sua postura de quem transmite forças ao seu pupilo. Tal como Caverzasio me apareceu durante a pesquisa, seu rosto na foto é obscuro, mas sua figura fundamental. Tal como na História, seu rosto pouco importa, o que importa é seu legado.

A foto de Caverzasio com Loffredinho me é tão marcante, tão bonita, que resolvi eternizar ela em minha pele. Ela significa pra mim a relação entre treinador e atleta. Mostra a alegria em boxear. Me lembra o grande desafio que foi pesquisar a História do boxe brasileiro.

Sangue, Suor e Lágrimas foi o título que escolhi para minha dissertação de mestrado.
Quem fez o desenho e a tatuagem foi o Pedro Argel , lá em Buenos Aires, em novembro passado.

Muito orgulho de fazer parte desse boxe

São Paulo, 18 de maio de 2020

Comentários

Mais lidos

Ditão: um herói caído do boxe brasileiro

Gibi, entre o boxe e a vida marginal.

Descanse em Paz Newton Campos

Bill Richmond e o surgimento da esquiva

Resposta a quem diz que Boxe não é esporte