O rei negro sem coroa

O rei negro sem coroa


Nesta data, dia 12 de janeiro, em 1957, falecia aos 72 anos um dos maiores boxeadores da história. Sam Langford é apontado por muitos especialistas como um dos melhores pugilistas que já existiu, embora nunca tenha tido sequer a oportunidade de ter lutado pelo título do mundo, muito menos ter conquistado um.  Tal injustiça ocorreu pelo fato de Langford ser negro, e à época em que competiu (entre 1902 e 1926), e principalmente durante seu ápice esportivo, o apartheid racial ainda prevalecia fortemente no boxe. 

Africano em diáspora, Langford nasceu no Canadá em 1883. Adolescente, mudou-se para Boston, nos Estados Unidos, onde começou a praticar boxe com 15 anos de idade. Relativamente baixo (1,71m), Langford lutou constantemente com boxeadores maiores e mais pesados, passando pelas categorias dos leves até os pesos-pesados. Seu cartel final foi de 252 lutas profissionais, com 178 vitórias, 29 derrotas e 38 empates. Impressionante. Entretanto, tal trajetória dentro dos ringues lhe trouxe sérias consequências e Langford perdeu a visão pouco tempo antes de se afastar das competições. Reza a lenda que em seus últimos anos como pugilista, Langford enxergava apenas vultos, mas mesmo assim boxeava e vencia adversários renomados. Com menos de 40 anos, estava completamente cego. Passou longos anos na pobreza, mas em 1944 foi 'resgatado' por um jornalista, que o encontrou pobre e cego em Nova York, aos 61 anos. A caridade da comunidade pugilística deu apoio a Langford, que pode viver com dignidade e conforto os últimos anos de sua vida, vindo falecer em 12 de janeiro de 1957.

Jack Dempsey, campeão peso pesado nos anos 1920, apontou Langford como o único boxeador que ele evitou enfrentar pois sabia que perderia. Especialistas e estudiosos dão a Langford o título de "o maior boxeador que nunca lutou pelo título do mundo". Membro do Hall da Fama, Sam Langford foi mais uma vítima do racismo, injustiçado e preterido, mesmo com todo seu talento e habilidade para boxear. É ele um dos precursores da luta contra o racismo, pois mesmo sem a coroa, foi rei. Um rei negro. Que descanse em paz.


Pesquisa e texto: Breno Macedo
Mestre em História Social do Boxe

SP, 12 de janeiro de 2021










 

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