Ricky Womack, um Negro Drama de Detroit
Vi um vídeo de um tal de Ricky Womack nocauteando o grande cubano Pablo Romero em 1984, então comecei a pesquisar....onde foi parar esse negrão? Como eu não conhecia esse boxeador tão forte, técnico e talentoso dessa geração de ouro? Ricky Womack, natural de Detroit, chegou na lendária academia Kronk com apenas 13 anos. Vindo de uma família desestabilizada, Ricky e seus sete irmãos foram criados orfanatos, sofreram violências e experiências traumáticas que deixaram cicatrizes eternas no rapaz. Sua carreira é brilhante, mas seu final é triste.
Vice-campeão mundial amador em 1983, Womack era o nome forte entre os meio-pesados para as Olimpíadas de Los Angeles 84. Dentre os concorrentes para a vaga olímpica, havia outro jovem amador chamado Evander Holyfield, de quem Womack já havia ganho duas vezes.
Apesar do favoritismo do atleta de Detroit, nas vésperas das Olimpíadas Holyfield fez sua estrela brilhar e tomou a vaga de Womack. Na seletiva olímpica, Holyfied venceu Ricky e começou a trilhar seu caminho de sucesso. Womack foi do céu ao inferno, perdeu a chance de ser campeão olímpico e teve que rearranjar sua carreira.
Womack era um jovem com problemas com a lei, carregava hábitos criminais e havia cometido alguns delitos em sua adolescência conturbada. Mesmo sem ir para a Olimpíada, seu treinador Emanuel Steward, um negrinho baixinho de Detroit, conseguiu pra ele um contrato de 150 mil dólares por dois anos. A Kronk, sua academia, também oferecia casa, comida e estrutura. Womack passou para profissional e passou a trilhar uma carreira de sucesso, tal como seus amigos de academia Thomas Hearns e Mark Breeland. Quando ele já estava com 9 vitórias consecutivas e sem nenhuma derrota, Womack teve uma 'recaída'. Passando por crises existenciais, o boxeador se envolveu em dois assaltos a mão armada no espaço de um mês. No segundo crime, em janeiro de 1986, deu um tiro na perna de uma pessoa e deu fuga na polícia. Ricky foi preso aos 24 anos e foi condenado a 25 anos de cadeia.
Após 15 anos de prisão e aos 39 anos de idade, Womack tentou retomar sua carreira como pugilista. Venceu quatro fracos adversários num espaço de seis meses em 2001. Já velho e decadente, Womack via seu antigo rival Holyfield vencer Tyson e faturar milhões através do boxe no final dos anos 1990. Depressivo e sofrendo de transtornos psicológicos, Ricky Womack se matou em janeiro de 2002, aos 40 anos.
A história de Womack é triste, mas é comum. É a história de alguém que tinha tudo pra ser grande, mas não foi. É a história dos que ficam pelo caminho, dos que fazem escolhas erradas e são cobrados caro por isso. Sua história é a do diamante que saiu da lama, mas que não se mantém no sucesso volta pesadamente lama. Fruto de uma sociedade desigual e violenta, Womack veio de uma realidade cruel, tão cruel que deixou marcas eternas. "A alma guarda o que a mente tenta esquecer". Que sua história sirva de exemplo para que cada vez menos pessoas precisem trilhar esses caminhos tortos. Que nossos jovens talentosos não fiquem pelo caminho por causa da violência, da criminalidade, do encarceramento.
Pesquisa e texto: Breno Macedo
Mestre em História do Boxe - USP
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