Como um boxeador se tornou o massagista oficial da seleção brasileira por sete Copas do Mundo?
Mário Américo foi o mais notório massagista da seleção brasileira de futebol. Prestando seus serviços à seleção canarinho desde 1950, Mário Américo participou da conquista do tri, entrando em campo em 1958, 62 e 70. Foi ao todo a 7 Copas do Mundo, por suas mãos mágicas passaram nomes como Pelé, Garrincha, Tostão, Belini, Rivelino…
O que não é sabido por todos é que Mário Américo teve sua entrada no mundo do futebol através do boxe. Nascido em Minas Gerais, Mário mudou-se para São Paulo ainda na infância, e foi na capital paulista que conheceu o boxe, esporte que estava em alta naquela década de 1930. Mário passou a praticar boxe com dois irmãos argentinos que tinham uma academia no centro da cidade, Kid Pratt e Kid Jofre, este último que se tornaria pai de Eder Jofre. Mario se dedicou ao boxe por dez anos de sua vida, com carreira amadora e profissional.
Foi o boxe que levou Mário Américo ao Rio de Janeiro, atrás da oportunidade de ser atleta do time de pugilistas do Madureira. Uma vez dentro do clube, Mario decidiu mudar de área, aposentando-se dos ringues e atuando como massagista da equipe de futebol. Mário tinha “as mãos boas” para as massagens, possuía conhecimentos de recuperação e especializou-se com cursos de anatomia. Graças ao seu carisma, bom humor e sagacidade, Mario foi se tornando uma espécie de “amuleto” da seleção brasileira.
Amigo e companheiro dos atletas, o ex-pugilista Mario também atuava como ‘leão de chácara’ do time. Bem na verdade, nestas épocas (até os anos 1970 e 80) era comum que massagistas fossem bons de briga, dado o alto índice de pancadarias que aconteciam nas partidas mais acirradas. Na Copa de 1954, por exemplo, Mário teve atuação destacada na chamada “Batalha de Berna”, quando uma briga generalizada se impôs após a eliminação do Brasil pela Hungria.
Com a malandragem de quem se criou trabalhando na rua como engraxate, Mario roubou a bola da final da Copa de 1958, primeiro título do Brasil. Quando o juiz encerrou o jogo e colocou a bola debaixo do braço, Mario veio correndo por trás, deu um soquinho na bola, a pegou e saiu correndo para o vestiário. Com o tempo se especializou na arte de passar recados aos jogadores que necessitavam de seu atendimento dentro de campo. Ganhou até o apelido de “pombo-correio”.
A brilhante atuação de Pelé na Copa de 1970 teve também as mãos de Mário Américo. Além de cuidar de toda a equipe com massagens, pomadas e toalhas quentes, Mário era um conselheiro, um incentivador de Pelé. O já ‘coroa’ Mario foi uma espécie de psicólogo do já consagrado Pelé, tal como Muhammad Ali tinha seu alter-ego Bundini Brown. Foi Bundini quem criou a frase “Voe como uma Borboleta, Pique como uma abelha”, e a gritava nos ouvidos de Ali durante os treinos e lutas, entre outras frases de incentivo. Como Mario, Bundini também fazia massagens em seu campeão.
Mario Américo foi atleta do argentino Kid Jofre e adquiriu muito conhecimento no mundo do boxe. Desde treinamentos físicos e as massagens até o trabalho mental pré-competição. Se no mundo do Boxe Mario não encontrou terreno para exercer todo seu talento e sabedoria, o mundo do fute bol ganhou o maior massagista que já existiu. Máximo respeito à trajetória de Mário Américo!
Pesquisa e texto: Breno Macedo
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Fotos: Coleção Mario Américo - Museu do Futebol
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