Postagens

Como um boxeador se tornou o massagista oficial da seleção brasileira por sete Copas do Mundo?

Imagem
Mário Américo foi o mais notório massagista da seleção brasileira de futebol. Prestando seus serviços à seleção canarinho desde 1950, Mário Américo participou da conquista do tri, entrando em campo em 1958, 62 e 70. Foi ao todo a 7 Copas do Mundo, por suas mãos mágicas passaram nomes como Pelé, Garrincha, Tostão, Belini, Rivelino… O que não é sabido por todos é que Mário Américo teve sua entrada no mundo do futebol através do boxe. Nascido em Minas Gerais, Mário mudou-se para São Paulo ainda na infância, e foi na capital paulista que conheceu o boxe, esporte que estava em alta naquela década de 1930. Mário passou a praticar boxe com dois irmãos argentinos que tinham uma academia no centro da cidade, Kid Pratt e Kid Jofre, este último que se tornaria pai de Eder Jofre. Mario se dedicou ao boxe por dez anos de sua vida, com carreira amadora e profissional.  Foi o boxe que levou Mário Américo ao Rio de Janeiro, atrás da oportunidade de ser atleta do time de pugilistas do Madureira. Um...

MORRE NILSON GARRIDO AOS 64 ANOS

Imagem
Boxe brasileiro perde Nilson Garrido, o homem que levou o boxe pra debaixo dos viadutos.  Garrido nasceu em Olinda, Pernambuco, mas veio ainda criança tentar a vida em São Paulo junto a família. Com dez anos de idade, se iniciou no boxe com o lendário Mestre Baltazar e nunca mais se afastou do esporte. Foi boxeador amador e se tornou técnico de boxe, ensinando a milhares de pessoas que tiveram suas vidas transformadas. Trabalhou como segurança, pedreiro, feirante e catador de entulho antes de estudar Educação Física e se formar professor. Em 2004 decidiu ensinar boxe para crianças e adolescentes em situação de rua no centro de São Paulo. Ocupou um espaço ocioso embaixo de um viaduto no Bixiga, no centro da cidade, transformando uma área abandonada e degredada em espaço de reabilitação humana. O projeto deu certo e passou por diferentes regiões de SP, como a Mooca e o Glicério.  Propositalmente, Garrido instalou sua academia em espaços 'esquecidos' pela sociedade, povoados pelo...

Descanse em Paz Newton Campos

Imagem
Hoje o boxe brasileiro amanheceu mais triste. Hoje o boxe brasileiro perdeu um pedaço de sua história. Aos 96 anos, sr Newton Campos nos deixou, levando consigo boa parte da trajetória do pugilismo nacional. Uma biblioteca inteira que não existe mais. Suas retinas descansaram, pra sempre. Os olhos que acompanharam o boxe brasileiro desde os anos 1940, se fecharam. Os mesmos olhos que viram Joe Louis em São Paulo, que viram Eder Jofre ainda criança, que viram Muhammad Ali contra Foreman no Zaire, que viram Servílio conquistar um bronze olímpico, que viram Popó ser campeão do mundo. Nenhuma outra retina viu tanto boxe como essas do seu Newton Campos. Nenhuma outra boca falou tanto sobre boxe, nenhum ouvido ouviu mais do que os seus, nenhum outro ser humano se dedicou tanto a esse esporte. Se eu pudesse fazer um pedido, queria checar o arquivo de imagem dessas retinas, gostaria de acessar os áudios ouvidos por seus ouvidos, queria escutar cada fala sua, tornar público cada momento presenc...

Voa alto, Tico!

Imagem
Jhonatan Conceição é, sem dúvida alguma, um dos melhores atletas que já passou pela nossa academia. Desde quando fez seus primeiros treinos, aos 12 anos no ano de 2007, ele já demonstrava talento. O Velho Macedo descobriu o diamante lá no afastado bairro do Jardim Guanabara II e trouxe pro nosso ginásio da Cidade Nova. Foi embora de Rio Claro com 16 anos, seus voos, eram sempre altos. Pegou seleção brasileira na primeira oportunidade, quando tinha 18 anos já tinha visitado mais países do que eu jamais visitei. Em 2017, após participar do Mundial de Hamburgo, foi afastado da seleção brasileira e perdeu a liderança na disputa da vaga dos 69 kg. Voltou pra Rio Claro aos 22 anos, já não aguentava mais essa vida de alojamento. Veio ficar perto da família, sem porém deixar de manter-se na elite do boxe brasileiro. O desafio era esse, ficar no interior, treinando na MM Boxe e seguir buscando ser o melhor do Brasil. Em 2019, após ser campeão brasileiro e mesmo assim não ser chamado para a sel...

Resposta a quem diz que Boxe não é esporte

Imagem
Semana passada, saiu um texto na Folha de SP que se dedicava a rebaixar o boxe olímpico. O autor, Roberto Dias, que é Secretário de Redação da Folha, trouxe uns argumentos que já se usavam desde a década de 1920 aqui no Brasil. Disse que boxe é agressão mútua, que é perigoso e que deveria ser proibido tal foram as rinhas de galo e touradas. Disse ainda que vai chegar o dia que o boxe sairá do programa olímpico "pelos motivos certos", ou seja: por não merecer ser considerado um esporte. Pessoas militando contra o boxe sempre existiram, caro sr Roberto Dias. Mas isso também ocorre com outras manifestações de gente pobre e preta, tal como foi com o samba, com a capoeira, com o funk. No Brasil, boxe é esporte de gente pobre e preta, e talvez por isso fique fácil de criticar, né seo Roberto. Dentre os sete atletas do Boxe brasileiro em Tóquio, não há nenhum branco como você, seo Roberto. Por isso talvez fique fácil pra você compará-los a touros ou galos de briga, né. O boxe compet...

Aniversário da estreia de Ralph Zumbano

Imagem
  Dia 9 de julho de 1949, há exatos 72 anos, começava a carreira profissional de um dos maiores boxeadores que o país já teve. Ralph Benedito Zumbano foi um dos responsáveis pelo crescimento que o boxe brasileiro deu nos anos 1940 e 50, tendo em vista sua carreira amadora e profissional.  Membro de uma família de boxeadores, Ralph cresceu vendo seus irmãos se dedicando ao boxe e seguiu o mesmo caminho. Fez sua estreia na Forja de 1943 e veio vencendo todos os campeonatos que disputava. Chegou a ser campeão latino-americano em 1947, aqui no Brasil, e viajou com moral para Londres para disputar as Olimpíadas de 1948. Em sua primeira grande experiência internacional, Ralph venceu dois boxeadores da Europa (Luxemburgo e França), impressionando a mídia britânica. Na terceira luta, a luta que valia o bronze dos leves, foi derrotado por Wallace Smith, dos Estados Unidos, que foi campeão do mundo após os Jogos Olímpicos. Vencer duas lutas em Jogos Olímpicos não é pra qualquer um, aind...

Futebol e Boxe

Imagem
  Durante muito tempo, o boxe esteve presente dentro dos clubes de futebol do Brasil. Cada grande clube tinha seu departamento de boxe, participava de campeonatos e organizava eventos em suas sedes.  O período mais fértil dessa relação entre boxe e futebol foi durante as décadas de 1940, 50 e 60..  O Palestra Itália (Palmeiras) tinha seu departamento de boxe aberto desde o fim dos anos 1930. O Corinthians abriu o seu em 1942, após um torcedor se inscrever  por conta própria pelo clube em um campeonato. O Corinthians desautorizou a inscrição e o torcedor disputou como 'avulso', abrindo sua seção de boxe no ano seguinte. Quem foi o primeiro tr einador do Timão foi o Ditão, lendário peso pesado dos primórdios do boxe brasileiro. Nesses anos, várias rodadas de boxe eram na Rua Javari, sede do Juventus. Eder Jofre fez sua estreia lá.  Ao ver Palmeiras e Corinthians com boxe, o São Paulo abriu seu departamento em 1943. O tricolor contratou a academia de Kid ...

O TEMIDO EXAME DE SUFICIÊNCIA

Imagem
  O TEMIDO EXAME DE SUFICIÊNCIA Antigamente, quem fosse disputar um campeonato amador de boxe, deveria passar por um "exame de suficiência" para ter sua inscrição aceita no torneio. No maior campeonato amador do país era assim que funcionava: para lutar tinha que mostrar que sabia um pouco de boxe.  Quando o Campeonato Popular da Gazeta Esportiva foi criado, em 1941, todos os 101 inscritos tiveram que participar de um teste com luvas, um sparring, para mostrar que tinham condições mínimas para lutar boxe. Doze rapazes tiveram suas inscrições negadas. O treino era realizado com algum boxeador profissional ou amador experiente, apenas alguns minutos de sombra para em seguida subir no ringue e mostrar o que sabe! Os exames de suficiência eram eventos públicos, abertos, e as academias ficavam lotadas no dia do teste, aumentando o nível de tensão. Além do público, seu futuro adversário também estaria lá te observando... Em 1957, ano das fotos que ilustram este texto, apenas precis...

Pela primeira vez, seleção brasileira tem uma treinadora

Imagem
Que o Boxe é um esporte machista, isso ninguém tem dúvida. Modalidade olímpica desde 1904, o boxe só incluiu as mulheres nos Jogos Olímpicos em 2012, sendo o último esporte praticado exclusivamente por homens nas olimpíadas. No Brasil as mulheres tiveram posição de destaque no boxe em pouco tempo, com brasileiras alcançando excelentes resultados internacionais a partir da década de 2000. As boxeadoras brasileiras já nos trouxeram medalha olímpica, medalhas em mundiais, medalhas em Panamericanos, títulos mundial no profissionalismo. E, agora em 2021, mais uma marca histórica é alcançada por uma esportista: pela primeira vez a Equipe Olímpica Permanente conta com uma técnica em seu quadro oficial. Suelen Souza, paulista de São José dos Campos, entra para a história como a primeira treinadora do time olímpico brasileiro. Sim, já tivemos outras mulheres no comando da equipe brasileira em competições, mas foram experiências esporádicas e pontuais de apenas uma viagem ao exterior. Suelen, po...

Histórias Cruzadas - Família Durães e Família Macedo

Imagem
A triste notícia da morte de Jackson Durães ainda reverbera em mim. A sua história, história da sua família, se cruza com a minha história esportiva, com a trajetória da família Macedo. Nossas histórias são cruzadas, como narro agora nessa pequena homenagem. O conheci quando eu era um adolescente, lá pros idos de 2005, quando Jackson já era um boxeador rodado. Como se não bastasse, sua esposa e mãe de seus três filhos pequenos também já boxeava, quando o boxe feminino no Brasil ainda engatinhava. É muito comum até hoje ver boxeadores e treinadores dizendo que não gostariam que sua namorada lutasse, mas pro Jackson era o contrário. Não só incentivava sua esposa, mas como a treinava e subia no corner em suas lutas. Elisangela Martinelli tornou-se das atletas mais fortes do país. Meu pai, Marcos Macedo, trabalhou em algumas competições com a Elisângela, começando essa relação de irmandade com a família Durães. Grande incentivador do boxe feminino em seus primórdios, Marcão ganhou o coraçã...

Ricky Womack, um Negro Drama de Detroit

Imagem
Amo pesquisar sobre boxe porque sei que nunca, nunca vou conhecer tudo. Essa semana me deparei com esse boxeador norte-americano, até então desconhecido por mim, e fiquei envolvido com sua história. Vi um vídeo de um tal de Ricky Womack nocauteando o grande cubano Pablo Romero em 1984, então comecei a pesquisar....onde foi parar esse negrão? Como eu não conhecia esse boxeador tão forte, técnico e talentoso dessa geração de ouro?  Ricky Womack, natural de Detroit, chegou na lendária academia Kronk com apenas 13 anos. Vindo de uma família desestabilizada, Ricky e seus sete irmãos foram criados orfanatos, sofreram violências e experiências traumáticas que deixaram cicatrizes eternas no rapaz. Sua carreira é brilhante, mas seu final é triste. Vice-campeão mundial amador em 1983, Womack era o nome forte entre os meio-pesados para as Olimpíadas de Los Angeles 84. Dentre os concorrentes para a vaga olímpica, havia outro jovem amador chamado Evander Holyfield, de quem Womack já havia ganho...

Sam McVey vs Joe Jeannette

Imagem
  Assim como todos as modalidades esportivas, o boxe é um esporte que mudou muito com o passar do tempo, transformou-se e continua se modificando até hoje. As mudanças no boxe sempre foram com o objetivo de deixar a luta mais justa e menos danosa aos corpos que combatem, fenômeno que pode ser chamado de "esportização". Há cem , 150 anos atrás, as regras de boxe permitiam que as lutas fossem muito mais perigosas e violentas do que são hoje. Em abril de 1909, há mais de 110 anos, ocorreu uma das lutas mais sangrentas do século XX, quando dois afro-americanos se enfrentaram em Paris: Sam McVey e Joe Jeannette. A luta entre pesos pesados era válida pelo título do mundo "Colored", o mundial dos pretos, e se acordou em fazer um combate sem limite de rounds: lutariam até alguém desistisse ou fosse nocauteado... Em 1909 já não era comum lutas de boxe sem limite de rounds pré-estabelecidos, a maioria das lutas por título do mundo eram pactuadas em 15, 20 ou até 30 rounds. ...

Você sabia que um marinheiro inglês foi o primeiro a lutar boxe no Brasil?

Imagem
Os primeiros combates públicos que se tem registro em solo brasileiro foram protagonizados por marinheiros estrangeiros, estadunidenses ou europeus. Jack Hare, um marinheiro baixinho (1,57 m) nascido em Londres, fez a primeira luta de boxe que se tem registro no Brasil, no Rio de Janeiro em 1894, enfrentando Ernie Studell, outro estrangeiro de origem desconhecida. Além da sua única luta no Brasil, o marinheiro inglês combateu em muitas outras partes do mundo durante sua carreira: Austrália, Estados Unidos, Inglaterra, França, África do Sul, Japão, Índia, Egito, Canadá... Observar por onde boxeou Jack Hare entre o final do século XIX e começo do século XX é observar como os trabalhadores marítimos foram responsáveis pela expansão do boxe pelo mundo. Algumas dessas lutas inclusive aconteciam em alto-mar, dentro das embarcações. Porém, apesar de popularizar e difundir o boxe por onde passavam, estes pugilistas marinheiros não se estabeleciam onde lutavam, retomando a vida de ‘cigano dos m...

O rei negro sem coroa

Imagem
O rei negro sem coroa Nesta data, dia 12 de janeiro, em 1957, falecia aos 72 anos um dos maiores boxeadores da história. Sam Langford é apontado por muitos especialistas como um dos melhores pugilistas que já existiu, embora nunca tenha tido sequer a oportunidade de ter lutado pelo título do mundo, muito menos ter conquistado um.  Tal injustiça ocorreu pelo fato de Langford ser negro, e à época em que competiu (entre 1902 e 1926), e principalmente durante seu ápice esportivo, o apartheid racial ainda prevalecia fortemente no boxe.  Africano em diáspora, Langford nasceu no Canadá em 1883. Adolescente, mudou-se para Boston, nos Estados Unidos, onde começou a praticar boxe com 15 anos de idade. Relativamente baixo (1,71m), Langford lutou constantemente com boxeadores maiores e mais pesados, passando pelas categorias dos leves até os pesos-pesados. Seu cartel final foi de 252 lutas profissionais, com 178 vitórias, 29 derrotas e 38 empates. Impressionante. Entretanto, tal trajetóri...

Oremos pelos que partem. Olhemos pelos que ficam.

Imagem
Oremos pelos que partem. Olhemos pelos que ficam. Ontem fiquei sabendo pelo Facebook do falecimento de uma importante figura do boxe brasileiro, Oswaldo Zuanella, o Branco. Sempre via o Branco nas competições da Federação Paulista, era chefe de arbitragem e braço-direito do seo Newton Campos desde que me conheço por gente. Sempre me tratava com carinho e respeito, tivemos boas conversas e fiquei muito chateado ao saber da sua morte. Resolvi hoje ligar para o seo Newton, que completou 95 anos agora em 2020, para conversar um pouco sobre o Branco. Queria pegar algumas informações para prestar uma pequena homenagem em forma de texto ao renomado árbitro. Entretanto, quando falei ao seo Newton sobre o falecimento do Branco, que durante décadas foi seu grande parceiro de trabalho, recebi como resposta uma dolorosa indagação: "O Branco morreu?! E ninguém me avisou?! Não acredito...". Fiquei sem palavras. Senti pesar a voz do velhinho.... Poxa, o amigo morreu e ninguém lhe ligou. Jus...